Meio físico e biótico
Diversidade biológica em área estratégica da Mata Atlântica
A região onde está localizado o Observatório Ornitológico Nascentes do Iguaçu faz parte do conjunto montanhoso da Serra do Mar, divisor natural entre o Litoral e o Primeiro Planalto paranaenses. Sua localização pode ser caracterizada uma área de ecótono, devido à transição de ambientes que se observa, com a presença de vegetação de subgrupos de formações fitogeográficas de Floresta Ombrófila Densa (Floresta Atlântica), nas áreas mais altas, e de Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucária), nas áreas mais baixas.
A partir da classificação vegetal dada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para caracterização das subformações fitogeográficas [1], nas áreas do Observatório Ornitológico encontram-se zonas de Floresta Ombrófila Densa Altomontana e de Floresta Ombrófila Mista. Nos mapas do IBGE, não há detalhamento de subformações da Floresta Ombrófila Mista [2]. Porém, devido à localização entre altitudes de 400m a 1.000m, a literatura científica permite deduzir que as áreas do Observatório nesta subformação possam ser classificadas como Floresta Ombrófila Mista Montana [1].
Por outro lado, o antigo Instituto de Terras, Cartografias e Geociências (ITCG), hoje parte da estrutura do Instituto Água e Terra (IAT) no Paraná, classifica as áreas onde se situa o Observatório como Floresta Ombrófila Mista Altomontana e Floresta Ombrófila Mista Montana [3]. O trabalho do ITCG foi feito com base nas publicações do naturalista e geólogo Reinhard Maack. Em 1950, este pesquisador publicou o primeiro mapa fitogeográfico do Paraná.
A terceira galeria de imagens ao lado e abaixo apresenta estas classificações do IBGE e do ITCG em forma de mapas.
Além dessas classificações, há a formação vegetacional de mata nebular que localmente ocorre a partir de 1.150m de altitude e encontra-se a aproximadamente 100 metros do limite leste do perímetro do Observatório. A proximidade entre três formações vegetacionais origina maior diversidade biológica, adaptada a dinâmicas ecológicas próprias nesses ambientes, dentro e nas imediações do Observatório. Esta caracterização comprova a importância da área para a pesquisa e a conservação da biodiversidade.
No ambiente montano, a flora contém espécies mais adaptadas às médias térmicas anuais mais baixas em função da elevada altitude, o que favorece a ocorrência ocasional de geadas, e dos solos variados. Nesses ambientes, que ainda estão bem conservados, é possível encontrar espécies arbóreas ameaçadas, como a Canela-preta (Ocotea catharinensis), Canela-sassafrás (Ocotea odorifera), Imbuias (Ocotea porosa), Peroba (Aspidosperma olivaceum), Araucária (Araucaria angustifolia), Canjerana (Cabralea canjerana), Cedro-rosa (Cedrela fissilis), entre outras. Nos estratos inferiores do ambiente montano destacam-se a Casca d’anta (Drimys brasiliensis), Caúnas (Ilex taubertiana e Ilex microdonta) e Xaxins (Dicksonia sellowiana e Cyathea phalerata). Também merecem destaque espécies das famílias Myrtaceae e Rubiaceae, que compõem um padrão recorrente nas áreas mais bem conservadas de florestas nesta formação vegetacional.
Acima dos 1.150m, no ambiente altomontano, em áreas adjacentes ao Observatório Ornitológico, a vegetação florestal de grande porte é substituída pela mata nebular e refúgios vegetacionais. São formações raras e de grande importância biológica pela condição endêmica de muitas espécies que ali subsistem. Com ocorrência exclusiva no ambiente altomontano, o Ipêzinho (Tabebuia catarinensis), a Gramimunha (Weinmannia humilis) e a Carne-de-vaca (Clethra uleana) crescem sobre solos progressivamente mais rasos e de menor fertilidade, onde é comum a presença de musgos e plantas hepáticas recobrindo integralmente os troncos, as ramificações das árvores e o solo.
A diversidade da fauna também é um fator que eleva a expressividade do Observatório Ornitológico. Além das aves, diversas espécies de outros grupos animais, algumas raras ou em perigo de extinção, podem ser encontradas localmente. Dentre os mamíferos destaca-se as presenças de Jaguatirica (Leopardus pardalis), Irara (Eira barbara), Quati (Nasua nasua), Bugio (Alouatta guariba), Cateto (Pecari tajacu), Tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) e o Cachorro-vinagre (Speothos venaticus). Merece menção, ainda, a presença do Sapinho-da-montanha (Brachycephalus coloratus), espécie de anfíbio recém descrita pela Ciência e endêmica do complexo montanhoso [4].
Em trabalho expedito de levantamento de ocorrência de espécies de répteis no Observatório Ornitológico, conduzido em janeiro de 2024, foi possível estimar que quase 70 espécies desta classe de animais podem ocorrer nas áreas da Reserva Natural [8]. Exemplos dessas espécies são o Teiú (Salvator merianae), lagarto de hábito diurno facilmente avistável, e um conjunto de serpentes como a Cobra-cipó-verde (Chironius bicarinatus) e um tipo de Cobra-coral-verdadeira (Micrurus altirostris). O relatório desse levantamento pode ser lido neste link, e fotografias de algumas espécies que ocorrem no Observatório podem ser visualizadas na galeria de répteis.
Nas outras três galerias, são apresentadas mais fotografias e mapas que ilustram a diversidade do meio físico e biótico no Observatório Ornitológico. Nas referências ao lado, alguns documentos técnico-científicos que subsidiaram o levantamento apresentado neste texto e que podem servir de consulta para aprofundamento do tema [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8].
Fotografia: Katia Brait Amaral
Fotografia: Elizeu Eduardo Czekalski
Fotografia: acervo do Observatório Ornitológico
Fotografia: Katia Brait Amaral
Répteis
"Erythrolamprus miliaris" Fotografia: Sérgio A. A. Morato
"Micrurus altirostris" Fotografia: Sérgio A. A. Morato
"Ophiodes fragilis" Fotografia: Sérgio A. A. Morato
"Erythrolamprus miliaris" Fotografia: Sérgio A. A. Morato
Fauna
Mapas das formações fitogeográficas
Fotografia: Maycon Hoffmann
Fotografia: Elizeu Eduardo Czekalski
Fotografia: acervo do Observatório Ornitológico
Fotografia: Maycon Hoffmann
Flora
Referências:
[1] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (Org.). Manual técnico da vegetação brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE, 2012
[2] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Mapa da vegetação brasileira - escala 1:250.000 - versão 2021. 2021. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/geociencias/downloads-geociencias.html.
[3] INSTITUTO DE TERRAS, CARTOGRAFIAS E GEOCIÊNCIAS. Formações fitogeográficas - Estado do Paraná. 2009. Disponível em: http://www.iat.pr.gov.br/Pagina/Dados-e-Informacoes-Geoespaciais-Tematicos.
[4] RIBEIRO, Luiz F. et al, Two new species of the Brachycephalus pernix group (Anura: Brachycephalidae) from the state of Paraná, southern Brazil, PeerJ, v. 5, p. e3603, 2017.
[5] PARANÁ, Instituto Ambiental do Paraná, Plano de Manejo do Parque Estadual Serra da Baitaca, 2017.
[6] CUNICO, Camila; PRIM, Danielle (Orgs.), Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Paraná, Curitiba: ITCG, 2018.
[7] RODERJAN, Carlos V.; GALVÃO, Franklin; KUNIYOSHI, Yoshiko S.; HATSCHBACH, Gert G. As unidades fitogeográficas do Estado do Paraná. Revista Ciência & Ambiente, v. 24, p. 75–92, 2002.
[8] BÉRNILS, Renato S. Répteis: espécies de ocorrência certa ou potencial no Observatório Ornitológico Nascentes do Iguaçu. 2024. Disponível em: https://www.observatorioornitologico.com.br/meio-fisico-e-biotico.